segunda-feira, 8 de abril de 2013

RESPEITO É BOM E NÓS GOSTAMOS!

RESPEITO É BOM E NÓS GOSTAMOS
Imagem da WEB

                Noutro dia li uma frase de um amigo na sua rede social que dizia assim:  “Sabe qual é a diferença entre uma mulher com TPM e um pitbull? O batom.”

            Esta frase preconceituosa e degradante limita a compreensão de todos e  reduz uma síndrome importante  ao mais baixo  conceito. Toda e qualquer manifestação de desagrado da mulher e de contraposição a alguma ideia de forma mais exaltada é atribuída à TPM.  Na sala de aula, recentemente,  minha filha  adolescente pediu explicações para a professora sobre uma questão da prova, na qual toda a turma havia  se sentido lesada pela questão mal formulada e que induzia ao erro. No mesmo instante dois colegas começaram a zoar  com a iniciativa correta dela,  dizendo maldosamente, pra deixá-la constrangida: “ela tá de TPM gente”!  E todos deram risadas e causou um alvoroço na sala. À noite, em casa, ela me relatou revoltada o ocorrido quando os colegas não entenderam a atitude positiva dela que ajudaria toda a turma.  Esses fatos e tantos outros dessa mesma natureza me instigaram a escrever essa crônica  ou eu me transformo  numa pitbull se não colocar pra fora o que penso.
               Obviamente, não comprei briga com esse meu amigo. Primeiro devido ao fato de que ele certamente levaria na brincadeira e no desdém e diria que estou na TPM,   porque faz parte do senso comum e do conceito machista fazer chacotas com essa fase mensal da mulher, que é terrivelmente dolorosa e estressante, já que há mesmo uma ebulição de hormônios. Em pelo menos 40% das mulheres  CAUSAM UM MAL-ESTAR FÍSICO E EMOCIONAL acentuado.
                Sabe lá os homens o que é todos  os meses  ficarmos expostas à ação dos hormônios, alguns dias antes e, depois, no mínimo quatro dias sangrando, com dores  nas pernas, nos seios, inchaço e sejam cólicas  intermitentes?  Não sabem, nem têm a mínima noção do que é ficar nessa condição e ainda  posarmos de duronas, ter de mostrar que não estamos nem aí pra esse período e fingir que nada está acontecendo. Então, façam-nos um favor: parem de jogar na lama nosso nome e passem a  tratar com mais respeito a condição feminina.
                Não se pode mais estressar e dizer algumas verdades que logo vem a célebre frase: “ Ih, sai fora que ela  tá na TPM”. Não, nem tudo é TPM. Por isso faço algumas considerações.
                Observem mulheres que trabalham o dia inteiro sob tensão,  tendo que render no trabalho tanto quanto os colegas que não têm nenhuma síndrome e ainda ganham salários maiores na maioria dos casos. Percebam algumas delas que dão duro nos escritórios, nas fábricas, na roça ou nas ruas sob sol escaldante.  Todos os meses estão ali, menstruadas, com as terríveis dores nas pernas. Pensem na mulher  gari ou numa trabalhadora rural que de sol a sol não têm acesso a banheiros com uma ducha higiênica, não têm local adequado pra trocarem seus absorventes. Muitas têm de decidir se compra o leite do dia ou o absorvente que custa caro e que foram reduzidos na embalagem que continha dez e agora são somente oito unidades. Há períodos, dependendo do fluxo menstrual, que são necessárias três ou mais embalagens, onerando os salários já apertados de muitas. E o que dizer dos chefes que nem desconfiam que aquela tristeza ou a cara de cansada e abatida tenha a ver com aqueles dias... Cara de paisagem é  o nosso melhor  disfarce.
                Imaginem também que, após essa jornada, a maioria de nós precisa enfrentar os ônibus lotados, trânsito de duas horas pra chegar em casa, onde têm filhos esperando, deveres de casa, roupas sujas, toalhas espalhadas, pias cheias, compromissos domésticos, jantar, maridos petulantes, incompreensivos, exigentes que, via de regra, se prostram na frente da TV ou do computador e nada fazem a não ser esperar de mão beijada que tudo lhe seja dado, sem que eles tenham de se preocupar  em dividir as tarefas e nem se a mulher está disposta.
                Pensou nessa cena? Então diga a verdade. E se você, homem, fosse submetido a tanta carga. Como reagiria?  Então, nem tudo é TPM, mas um somatório de situações que,  acrescidas ao período  mensal  influenciam no humor e na disposição feminina de forma avassaladora. Assim sendo,  a doce e suave  mulher acaba se tornando numa temerosa pitbull à qual meu amigo se referiu na triste frase. E,  o que dizer dos colegas de minha filha, neste caso, quem é o pitbull mesmo? Fala sério!


Neide Pacheco