terça-feira, 10 de setembro de 2013

Arapongagem norte americana - Um recado pro Tio Sam



Olá Tio Sam , sua mãe não te ensinou que bisbilhotar a vida alheia é falta de educação? Pois, então, eu vou te contar uma coisa.

Quando eu era criança morava numa casa bem pequena, tinha 13 pessoas (meus pais e mais 11 irmãos, depois chegaram mais outros de criação). Jamais mexi em qualquer coisa que não fosse minha. Respeitava cada pertence do outro. Mesmo que aquilo fosse da minha extrema curiosidade eu sabia que se mexesse teria que prestar contas ao coletivo. Assim é que cresci e aprendi a não fuxicar a vida alheia, respeitando o espaço comum, pois só assim eu teria meu espaço individual também respeitado, com uma família tão numerosa, não era fácil. Minha mãe era brava demais e não permitia deslizes porque a prole era grande e ela não podia perder o controle, sob pena de sofrer as consequências depois. Quando havia brigas o pau comia em todos, sem distinção... sabe como é, né? Pau que dava em Chico dava em Francisco também. Era um tal de um falar que era o outro e ela não sabia quem tinha razão, então todos levavam lambada... Só assim é que respeitávamos, com medo de sobrar até pra quem não tinha culpa das picuinhas. De resto, fui levando pra vida esse aprendizado de respeito ao coletivo, ao alheio. Sabe aquela máxima: "Faça com os outros aquilo que gostaria que fizessem com você"... minha mãe sempre dizia isso como um mantra. Assim, eu aprendi a respeitar.

Então, Tio Sam, é simples assim. O senhor vive com medo de ser atingido pelos seus inimigos e adversários. Eu sei o motivo. É porque o senhor não respeita a vida alheia e fica bisbilhotando tudo, ocupa espaços que não são os seus, quer tomar tudo pra si, ser dono de tudo, quer enganar, trapacear, destruir, dar golpes, derrubar o chefe de outras moradas, provocar discórdias e sacrificar vidas. Vive gastando fortunas com armas, equipamentos de segurança, comprando aliados. Quer saber se estão conspirando contra você  porque não dá sossego pros seus vizinhos, aí o medo toma conta dos seus dias e noites, e o resultado disso é vigiar, prender e sacrificar dentro de suas próprias cercanias, alimentando esse círculo de desordem e medo. Assim agindo você só terá inimigos, más energias circulando, outras pessoas querendo sua ruína, os outros revidando suas jogadas, causando destruição no seu próprio quintal.  Agora deu pra  invejar o sucesso daqueles que você sempre desprezou? Não percebe que está se lascando todo?

Quer um conselho? Cuide da sua vida, consuma suas energias e recursos construindo amigos, cuidando das pessoas que vivem ao seu lado, olhando mais para dentro de sua casa e deixando de invejar a grama do vizinho que tá mais bem cuidada. Pare de gastar seu dinheiro com equipamentos e armas que não vão te dar tanta segurança, pois nenhum é 100% infalível. Uma hora dessas você vai ser surpreendido com todos os seus inimigos e adversários se organizando pra ocupar seu quintal, revidando toda a maldade que tem feito ao seu redor.


Agora, Tio Sam, só te dou um conselho básico: passe a decorar e viver essa frase que minha mãe sempre disse: "Faça com os outros aquilo que gostaria que fizessem por você". Com isso, você vai saber medir direitinho como agir pra melhorar a vida dos seus e viver em paz... é simples assim!

Neide Pacheco - BH - setembro/2013

segunda-feira, 8 de abril de 2013

RESPEITO É BOM E NÓS GOSTAMOS!

RESPEITO É BOM E NÓS GOSTAMOS
Imagem da WEB

                Noutro dia li uma frase de um amigo na sua rede social que dizia assim:  “Sabe qual é a diferença entre uma mulher com TPM e um pitbull? O batom.”

            Esta frase preconceituosa e degradante limita a compreensão de todos e  reduz uma síndrome importante  ao mais baixo  conceito. Toda e qualquer manifestação de desagrado da mulher e de contraposição a alguma ideia de forma mais exaltada é atribuída à TPM.  Na sala de aula, recentemente,  minha filha  adolescente pediu explicações para a professora sobre uma questão da prova, na qual toda a turma havia  se sentido lesada pela questão mal formulada e que induzia ao erro. No mesmo instante dois colegas começaram a zoar  com a iniciativa correta dela,  dizendo maldosamente, pra deixá-la constrangida: “ela tá de TPM gente”!  E todos deram risadas e causou um alvoroço na sala. À noite, em casa, ela me relatou revoltada o ocorrido quando os colegas não entenderam a atitude positiva dela que ajudaria toda a turma.  Esses fatos e tantos outros dessa mesma natureza me instigaram a escrever essa crônica  ou eu me transformo  numa pitbull se não colocar pra fora o que penso.
               Obviamente, não comprei briga com esse meu amigo. Primeiro devido ao fato de que ele certamente levaria na brincadeira e no desdém e diria que estou na TPM,   porque faz parte do senso comum e do conceito machista fazer chacotas com essa fase mensal da mulher, que é terrivelmente dolorosa e estressante, já que há mesmo uma ebulição de hormônios. Em pelo menos 40% das mulheres  CAUSAM UM MAL-ESTAR FÍSICO E EMOCIONAL acentuado.
                Sabe lá os homens o que é todos  os meses  ficarmos expostas à ação dos hormônios, alguns dias antes e, depois, no mínimo quatro dias sangrando, com dores  nas pernas, nos seios, inchaço e sejam cólicas  intermitentes?  Não sabem, nem têm a mínima noção do que é ficar nessa condição e ainda  posarmos de duronas, ter de mostrar que não estamos nem aí pra esse período e fingir que nada está acontecendo. Então, façam-nos um favor: parem de jogar na lama nosso nome e passem a  tratar com mais respeito a condição feminina.
                Não se pode mais estressar e dizer algumas verdades que logo vem a célebre frase: “ Ih, sai fora que ela  tá na TPM”. Não, nem tudo é TPM. Por isso faço algumas considerações.
                Observem mulheres que trabalham o dia inteiro sob tensão,  tendo que render no trabalho tanto quanto os colegas que não têm nenhuma síndrome e ainda ganham salários maiores na maioria dos casos. Percebam algumas delas que dão duro nos escritórios, nas fábricas, na roça ou nas ruas sob sol escaldante.  Todos os meses estão ali, menstruadas, com as terríveis dores nas pernas. Pensem na mulher  gari ou numa trabalhadora rural que de sol a sol não têm acesso a banheiros com uma ducha higiênica, não têm local adequado pra trocarem seus absorventes. Muitas têm de decidir se compra o leite do dia ou o absorvente que custa caro e que foram reduzidos na embalagem que continha dez e agora são somente oito unidades. Há períodos, dependendo do fluxo menstrual, que são necessárias três ou mais embalagens, onerando os salários já apertados de muitas. E o que dizer dos chefes que nem desconfiam que aquela tristeza ou a cara de cansada e abatida tenha a ver com aqueles dias... Cara de paisagem é  o nosso melhor  disfarce.
                Imaginem também que, após essa jornada, a maioria de nós precisa enfrentar os ônibus lotados, trânsito de duas horas pra chegar em casa, onde têm filhos esperando, deveres de casa, roupas sujas, toalhas espalhadas, pias cheias, compromissos domésticos, jantar, maridos petulantes, incompreensivos, exigentes que, via de regra, se prostram na frente da TV ou do computador e nada fazem a não ser esperar de mão beijada que tudo lhe seja dado, sem que eles tenham de se preocupar  em dividir as tarefas e nem se a mulher está disposta.
                Pensou nessa cena? Então diga a verdade. E se você, homem, fosse submetido a tanta carga. Como reagiria?  Então, nem tudo é TPM, mas um somatório de situações que,  acrescidas ao período  mensal  influenciam no humor e na disposição feminina de forma avassaladora. Assim sendo,  a doce e suave  mulher acaba se tornando numa temerosa pitbull à qual meu amigo se referiu na triste frase. E,  o que dizer dos colegas de minha filha, neste caso, quem é o pitbull mesmo? Fala sério!


Neide Pacheco 

sexta-feira, 8 de março de 2013

MULHERES INCANSÁVEIS, CONTRA A OPRESSÃO, A POBREZA E A DESIGUALDADE



Desde quando a ONU, em 1910,  estabeleceu o dia 08 de Março como  Dia Internacional da Mulher a partir do trágico incêndio criminoso que matou 130  tecelãs em uma fábrica de Nova Iorque    em 1857,  quando exigiam redução de jornada, licença maternidade  e equiparação salarial com os homens, muitas coisas mudaram.
                Nesses 100 anos, o breve balanço que podemos fazer é que a luta avançou a passos lentos e muitas mulheres entregaram suas vidas e tombaram pela causa, mas grandes e importantes conquistas foram forjadas em todas as áreas nos  últimos 50 anos, empurrando as mulheres para atuarem em todas as profissões, acentuando seu papel como protagonistas dessas mudanças nas áreas das Ciências, das Tecnologias, da Filosofia,  Educação, Economia, da Política e tantas outras.
                 Hoje, já não basta mais só fazermos o discurso contra a violência sexista que estampam as manchetes diárias das mídias e revoltam a todas nós. Em todas as manifestações e pautas de  negociação as mulheres avançam em suas práticas e vão além, buscando ampliar a participação em outros campos da cidadania, exigindo Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, Terra, Água e Agroecologia, pela Democratização dos Recursos Naturais;   Trabalho, Renda e Economia Solidária,  Garantia de Emprego e Melhores Condições de Vida e de Trabalho, Política de Valorização do Salário Mínimo,  Defesa da Saúde Pública e Educação  do  Campo  e Combate à Violência Sexista sob todas as suas formas (física e psicológica), pelo direito de decidir sobre seu corpo. Esses são temas  que hoje pontuam as lutas de todas as mulheres organizadas, em todas as instâncias de participação.  Em nosso país, milhares de cooperativas e empreendimentos mantidos por mulheres fazem a diferença nas suas comunidades, dando exemplo de garra e disposição. Muitas dessas são mulheres que viviam na dependência masculina e oprimidas nessa situação, mas que conseguiram se firmar e se empoderar, protagonizando mudanças para se libertarem como cidadãs criando um círculo virtuoso. 

                 Papel de destaque nas mudanças sociais e políticas, notícias dão conta de que as mulheres exerceram papel fundamental na redemocratização da Tunísia, na Índia a Gangue de Rosa, que reúne milhares de mulheres com saris rosa, enfrenta os homens pelas ruas contra a opressão, a violência doméstica e os vários casos de estupro coletivo. Há, ainda, na Índia a Universidade de Pés Descalços que forma mulheres pobres para atuarem de forma comunitária em várias áreas, desde saúde, moradia popular, energia sustentável, prática dentária e outras. Pelo mundo afora as mulheres estão  se movimentando pra mostrar a sua força e coragem, ocupando um lugar sempre negado na história.
                        
                       Nada, mas nada mesmo, é dado ou concedido sem a luta constante e  vigilante. Aqui, nas nossas fronteiras, muito já conquistamos e, sabemos, não basta termos colocado no cargo máximo do país uma mulher, temos de ocupar cada vez mais os espaços na vida pública, ampliando nossa presença nos cargos de comando do Legislativo, no Executivo, Judiciário e em todos os lugares pra termos vozes ecoando as mudanças que queremos, sob o ponto de vista da alma feminina. Ou seja, firmes na luta, mas com todo afeto!

Neide Pacheco